Aos 27 anos, Holanda Hopkins está mais perto do que nunca de ser a primeira surfista portuguesa a qualificar-se para o Championship Tour (CT2026), circuito de elite da Liga Mundial de Surf (WSL).

A atual vice-campeã mundial ocupa a segunda posição do ranking do Challenger Series (CS), circuito europeu de qualificação para o CT e tem no EDP Ericeira Pro, 4.ª etapa do CS, uma oportunidade única de encurtar, e muito, esse objetivo de vida de fazer parte de um círculo restrito, até à data, a dois portugueses: Tiago Pires e Frederico Morais.

Sempre sorridente, Yo-Yo foi uma das convidadas da conferência de imprensa de apresentação da etapa portuguesa, 29 de setembro a 5 de outubro, que decorreu no La Barraque, Hotel You & The Sea, na Ericeira.

Antes de pôr o pé em Ribeira de Ilhas, era inevitável falar da prestação no Mundial ISA, em El Salvador, onde foi vice-campeã mundial na prova de seleções.

"Aterrei com a medalha no aeroporto (Lisboa), mas não ando com ela. Tenho muito orgulho nessa medalha, mas não sou muito uma pessoa de andar a mostrar o que fiz", explica a olímpica e bicampeã europeia da WSL. "Quando tiver a de campeã do mundo, aí andarei a mostrar a toda a gente", deixa a promessa.

“Quando estiver lá (CT), ouço o ruído todo”

Atira a prova de países para trás e avança para o que se pode esperar da competição individual onde pode fazer história no surf português.

"Estou bastante perto", assume. "Mas, no ano passado, na Ericeira, estive também na conferência de imprensa e estava bastante confiante no campeonato. Era 11.ª do ranking na altura, este ano estou em segundo", compara.

"Depois em Saquarema e acabei tão perto (8.ª do ranking e fora da qualificação)", recorda.

"Este ano estou em segundo e acho que estou mesmo a tentar ir por campeonato e campeonato", adianta, recusando dar ouvidos a qualquer tipo de pressão.

O natural ruído e olhares fixos na prestação da surfista algarvia são compreensíveis, mas nada parece afetá-la. “Não incomoda. E tento mesmo só não pensar nele”, confessa.

"Quando estiver lá (CT), ouço o ruído todo. Mas, neste momento, estou tão focada no meu objetivo, que não estou a pensar mais nada. Isto é só mais uma parada para o meu objetivo", acentua.

Recua um par de semanas até à prova de El Salvador, na qual sagrou-se vice-campeã mundial do World Surfing Games ISA. "Fiquei em segundo em El Salvador para poder ganhar este campeonato. Porque não podia ganhar os dois de seguida, o universo está a ajustar-se", solta uma gargalhada.

"A medalha de prata (em El Salvador) é muito importante para mim, pessoalmente. Mas não vai influenciar a minha vida este ano, nem nos próximos anos", refere. "Aqui vai. E, nesse sentido, acho muito mais importante o campeonato na Ericeira do que em El Salvador", justifica Yo-Yo.

"Estando tão perto, só quero ir para a Ribeira e surfar da maneira que sei surfar”, complementa o raciocínio. “Se surfar da maneira que sei surfar, é até ao fim", promete.

Não muda nada na preparação e pensamento. "Tem estado a funcionar", sublinha. "Há dias que nem sempre corre bem, mas como competidora a consistência é essencial. Tenho sido bastante consistente este ano. Não tenho saído do top 5 em todos os campeonatos", regista Yolanda Hopkins.

“Como evolui um bocadinho mais tarde, na minha cabeça ainda tenho 14 anos”

A consistência pode levar a surfista olímpica de 27 anos até ao circuito onde, ano após anos, a idade de entrada é cada vez menor. "Como evolui um bocadinho mais tarde, na minha cabeça ainda tenho 14 anos", sorri.

"Estou no auge da minha idade, que é um bocadinho mais avançada do que as raparigas de hoje em dia". No entanto, considera esta distância entre a idade real e a sentida, uma vantagem da qual pode sair beneficiada.

"Tenho muito mais experiência e acho que as decisões que tomo dentro e fora de água são muito mais sensatas", explica.

Compara-se com a líder do ranking, Tya Zebrowski, prodígio francesa de 14 anos. "Na cabeça temos a mesma idade, mas tenho mais experiência, o que é um bónus", realça.

“O meu campeonato acaba já em Saquarema”

A alteração tardia efetuada no Challenger Series – de seis para sete etapas e deslizamento do calendário anual (Pipeline, janeiro e Newcastle, março) - anunciado no início da temporada, não provocou alterações súbitas na preparação de Yolanda Hopkins.

"Nada alterou. Apenas só a minha ideia de acabar e, para mim, o meu campeonato acaba já em Saquarema (Rio de Janeiro, 11 a 19 de outubro)", avança, confiante em dois bons resultados que a coloquem, por antecipação, no Circuito Mundial, onde têm entrada direta as sete primeiras do ranking na sequência dos cinco melhores resultados.

"Quero-me certificar já (Ericeira e Saquarema)", antecipa, para não levar a questão da qualificação para o início de 2026 e para a etapa no Havai (Pipeline), onda que conhece de treinos, mas não em competição.

"Temos uma janela pequena e como é uma onda tão influenciada por tamanho, swell e ventos e nunca se sabe o que pode acontecer", frisa. "Por isso, quero ir mais como experiência de competir lá e já numa de treinos para o CT", conclui.