"Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado." A citação de Amália Rodrigues não surge por acaso. É com versos carregados de desalento que Valentim Loureiro descreve ao Jornal de Notícias a grave crise vivida pelo Boavista. Aos 86 anos, o major que liderou o clube durante quase duas décadas não esconde a dor perante a derrocada dos axadrezados, agora à beira de cair nos distritais.

O Boavista, recorde-se, foi despromovido à Liga 2, falhou a inscrição nas provas profissionais, viu a Liga 3 e o Campeonato de Portugal recusarem-lhe a entrada por decisão da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e enfrenta pedidos de insolvência da SAD e do clube. O cenário mais provável passa agora pela entrada nos campeonatos distritais.

“No meu tempo tudo era diferente. Havia uma gestão séria, honesta e rigorosa. Quando saí deixei o clube sem passivo e a não dever nada a ninguém. Agora fala-se em mais de 150 milhões de euros de dívidas... São números astronómicos. Eu pergunto: como é possível?”, questiona o antigo presidente, hoje presidente honorário e líder do Conselho Geral do clube.

“Fiz grandes transferências e as contas estavam certas. Agora é só problemas. O Boavista teve dirigentes, em vários casos, com grandes ordenados. Eu não ganhava nada”, reforça Valentim Loureiro, visivelmente indignado com o rumo do clube que ajudou a projetar no panorama nacional.

Perante o colapso da SAD, o Boavista anunciou aos sócios, em carta aberta assinada pelo presidente Garrido Pereira, a intenção de inscrever em 2025/26 uma equipa sénior independente da SAD, totalmente sob a alçada do clube.

“A prioridade é proteger o Boavista e assegurar que o futebol se mantém sob controlo do clube”, lê-se na missiva.

“O projeto do futebol profissional falhou para grande desilusão de todos nós, mas não foi certamente por responsabilidade do clube”, acrescenta a direção.

Apesar da tempestade, o clube assegura que está a funcionar com normalidade e garante que tem “todas as condições para manter e reforçar a atividade desportiva, formativa e social”. O plano de recuperação apresentado visa garantir um futuro sustentável — mesmo que esse futuro tenha de ser reconstruído a partir dos escalões distritais.

Valentim Loureiro, por sua vez, apenas repete uma palavra: “Tristíssimo.”