
Há dias em que tudo parece conspirar contra. Noutros dias em que metade está de bem contigo mas a outra metade insiste em lixar-te mesmo assim. O Sporting ontem viveu uma destas últimas. Jogou em Nápoles, frente ao campeão italiano, com pedigree (e com uns quantos marmanjos bem pagos para fazer o trabalho sujo) e sofreu uma derrota de 2-1, com os italianos a arrancarem os três pontos no Estádio Diego Armando Maradona, graças a um “hat-trick” moderno de Højlund + De Bruyne.
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Itália é para o Sporting uma espécie de "kryptonite" do Super Homem. Nunca lá venceu e ontem foi mais uma dessas noites. Apostar no empate/derrota do Sporting em Itália é mais certo do que apostar que na próxima semana teremos mais um deputado do Chega às voltas com a Justiça.
O Nápoles vinha com a urgência de pontuar na Champions, depois de alguns desaires recentes que deixaram os adeptos a perguntar se ainda havia azeite para fritar ou se o motor tinha gripado. Sporting chegava com moral, bons resultados, vontade de mostrar que não está ali só para marcar presença. Tudo parecia possível.
Se há coisa que Nápoles tem bom em casa é pressão, ambiente quente, cheiro a pizza e a tarantela. Se juntarmos isso a um avançado com instinto assassino como Højlund, temos receita para tensão, suor e infelizmente para os leões, muito sofrimento e azia.
Marcava o cronómetro 36 minutos de jogo, o Nápoles recupera rapidamente uma bola e Kevin De Bruyne vê espaço, quebra linhas como quem troca filtros de Instagram, e encontra Højlund. O avançado, ex-Manchester United, simplesmente “resolveu”. Frieza escandinava, corpo forte, pé certeiro. 1-0 para os italianos. Sporting até tentava… mas era como querer abrir uma porta emperrada com luvas grossas, havia esforço, mas pouco sucesso. Não sei que perfume
Højlund usava mas era anti-defesas pois Geny Catamo em vez de tentar fechar o caminho ao nórdico, afastou-se deste e estendeu-lhe a passadeira.
Este primeiro golo teve sabor amargo, o Sporting foi avisado, viu buracos, deixou espaço demais. Rui Silva ficou com as pernas rasgadas, se calhar é melhor alguém lhe dar o número de uma costureira para voltar a coser as pernas.
Na segunda parte, saído do balneário, o Sporting respira, mostra coragem. Aos 62 minutos, surge um penalti muito festejado. Politano pisa (ou tropeça, ou faz corpo mole) em Maximiliano Araújo, o uruguaio vai ao chão, árbitro marca. Luis Suárez vai àquele canto baixo, custoso para o guarda-redes, e empata a partida. Os leões voltavam a acreditar mas como diz Ted Lasso, é a esperança que nos mata.
Finalmente parecia que o Sporting ia escrever uma história de superação. Aquelas 15 minutos seguintes foram de pressão, de cruzamentos, de corações a bater forte no peito, tantos de leão, tantos de desespero. Pote teve nos pés a cambalhota no marcador mas decidiu enviar a bola para o Vesúvio.
Quem não marca normalmente sofre e aos 79, De Bruyne volta a inventar, cruzamento, Rui Silva entra na estação de Metro da Trindade para ir para a Casa da Música mas fica-se pela Carolina Michaelis, Højlund salta, cabeceia e marca. Nápoles de novo na frente. Se já se sentia o murmúrio dos adeptos do Sporting a puxar pela igualdade, esse cabeceamento foi como uma bofetada à Bud Spencer, que deixa marcas externas e internas.
O jantar de ontem para a equipa leonina, no final do jogo foi frango, não se pode desperdiçar um daquele tamanho.
Sporting tentou de novo e até quase conseguiu. No último lance da partida, Huljmand teve na cabeça o golo mas Savic tinha na sua mão esquerda o antídoto para aquele cabeceamento venenoso.
Os três pontos ficavam em Itália.
Se o Sporting fosse um ator, ontem foi teria sido vilão de comédia romântica que começou com sorrisos e olhares, teve um interlúdio de esperança (o empate) e terminou com o protagonista a sair de cena com o amor da sua vida, debaixo de aplausos dos outros e o Sporting com vaias das próprias expectativas.
Para os adeptos leoninos, fica o consolo e mais uma vitória moral. Se as vitórias morais dessem títulos, o Sporting teria de alargar e muito o seu museu. Jogou bem, teve coragem mas não chega quando enfrentas quem também sabe jogar de olhos fechados
No fim, uma jornada de Liga dos Campeões para Portugal esquecer, zero pontos e duas vitórias morais, nada mais do que isto.
Viva o futebol
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