"Erro humano". É assim que o All England Club explica uma falha flagrante do sistema eletrónico que este ano substituiu os juízes de linha no mítico torneio de Wimbledon.

A CEO do clube, Sally Bolton, explicou que a tecnologia foi "inadvertidamente desativada" por alguém no Court Central durante a vitória de Anastasia Pavlyuchenkova sobre a tenista da casa Sonay Kartal, domingo, em partida dos oitavos de final.

Tudo aconteceu quando, no meio de um ponto, uma bola batida longa por Kartal bateu claramente para lá da linha de fundo. Porém, o sistema automático — chamado 'Hawk-Eye Live' ('Olho de Falcão Instantâneo') — não anunciou a bola como fora.

Como se tal não bastasse, o árbitro da cadeira, Nico Helwerth, mesmo apercebendo-se que a bola foi fora, não deu o ponto a Pavlyuchenkova e optou por mandar repetir o ponto. "Roubaram-me o jogo", protestou a russa, sentindo parcialidade por parte do árbitro em relação à jogadora da casa. Pavlyuchenkova por perder esse jogo , mas vencer o set e o encontro.

Horas depois de Bolton ter justificado a falha aos jornalistas, o All England Club, clube de ténis responsável pela organização do torneio, emitiu um comunicado anunciando que "removeu a capacidade dos operadores do Hawk-Eye de desativarem manualmente o rastreio da bola", garantindo que "o erro não poderá assim repetir-se".

Bolton recusou alongar-se mais sobre o erro, como tinha acontecido e se o responsável enfrentaria alguma consequência, lembrando que muita coisa falhou naquele momento: o juiz de cadeira, Nico Helwerth, para além do árbitro de revisão e o árbitro Hawk-Eye, que deveriam tê-lo informado de que o sistema estava temporariamente em baixo.

"Não precisávamos de colocar os juízes de linha de volta em court", garantiu Bolton. "Precisávamos que o sistema estivesse ativo", sublinhou. Ainda assim, o árbitro Nico Helwerth foi afastado, da jornada de segunda-feira, depois de ter estado em nove encontros nos sete dias anteriores. A organização explicou que esta medida visou “preservar a integridade competitiva” do evento, ainda que reforçando que o erro se deveu a uma falha técnica e não a má-fé.

A ausência dos juízes de linha dá que falar

O episódio reacendeu o debate sobre o adeus aos juízes de linha decidido esta época em Wimbledon. Foram muitas as vozes de jogadores, ex-jogadorese não só a levantarem-se contra esta decisão que acabou com uma grande tradição daquele prestigiado torneio.

Ao mesmo tempo, veio também levantar dúvidas quando à total dependência da tecnologia nas decisões de arbitragem.

Wimbledon substituiu, este ano, os seus juízes de linha por câmaras que acompanham as bolas a cada pancada para determinar se batem dentro ou fora.

As críticas sobre esta entrada em cena da inteligência artificial subiram de tom, mas Bolton frisou:

"O ponto que gostaria de enfatizar é que não se trata de um sistema de inteligência artificial. É um sistema eletrónico no sentido em que a tecnologia de rastreio da câmara está configurada para marcar as linhas automaticamente, mas requer um elemento humano para garantir que o sistema está funcional. Portanto, não é IA. Há sempre humanos envolvidos. E, neste caso, foi um erro humano. O sistema precisa de ser ativado e desativado e alguém o fez acidentalmente durante o encontro".

Questionada sobre o motivo, Bolton respondeu: "Bem, não sei. Foi um erro, obviamente... Eu não estava lá sentada, por isso não sei o que aconteceu".
"Presumo", disse Bolton, "que ele sentiu que não tinha visto bem".