Ainda os adeptos do Sporting cantavam a plenos pulmões 'O Mundo sabe que...', qual galo a anunciar mais um dia do Leão e já o Dragão estava com a 'mão na massa', a trabalhar de madrugada, a mostrar antes dos primeiros raios de futebol ao que vinha: bola de saída, passe longo, primeira e segunda bolas ganhas, bicicleta de Borja Sainz e um poste amigo, a devolver a bola para as mãos de Rui Silva.

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É provável que muitos dos 50946 espetadores que encheram Alvalade possam nem ter visto este lance de autoritarismo, de marcar de posição de um Dragão transformado para melhor esta época.

As marcações zonais individuais promovidas por Francesco Farioli emperraram a máquina goleadora de Rui Borges (12 golos marcados nos anteriores três jogos), deixaram o bicampeão sem ligação e as viagens até a baliza de Diogo Costa mais difíceis.

Foram nos erros portistas que surgiram as melhores oportunidades leoninas, anuladas pela solidariedade e capacidade de sacrifício de um Dragão que parece ter recuperado o seu ADN. Alberto Costa, portista desde pequenino, mostrou de que fibra é feito e fez um sprint monumental para anular uma jogada de três contra zero que depois passou para três contra um. Corte fantástico ao remate de Pote. Depois, Nehuén Pérez a dar o corpo às balas, em socorro do seu colega de posição Bednarek, após perda de bola do gigante polaco na área portista.

O intervalo trouxe um novo Sporting para o segundo tempo, a conseguir bater a pressão azul e branca e a encontrar sempre um homem livre para receber e progredir. Pressionou, rematou, insistiu, até levar um 'banho de água fria': triangulação Froholdt, William Gomes e Alberto Costa na direita, centro do jovem português para Luuk de Jong só encostar na pequena área, à hora de jogo, para o fundo das redes. Fácil.

A nova cara deste Dragão sobressaiu aos 64, no golo da noite. Não no golo em si, mas pela forma como a equipa conseguiu chegar até ao artista de serviço. O Sporting pressionou, Zaidu teve calma para encontrar Alan Varela no centro para este variar de pronto para o flanco contrário onde William Gomes recebeu, deixou dois Leões para trás e disparou em arco de fora da área, para um golo de levantar qualquer estádio.

O autogolo de Nehuén Pérez aos 74 deixava o Sporting com muito tempo para o empate. A equipa tinha crescido com uma direita nova, agora com Vagianidis e Quenda em vez de Fresneda e Geny Catamo, estava por cima, mas faltava-lhe artistas, homens do desequilíbrio. Luiz Suárez e Trincão assumiram esse papel, Diogo Costa disse-lhes que a noite não era deles.

No fundo, o jogo e o resultado disseram ao Sporting que precisa de investir, no mínimo, em mais um extremo desequilibrador e, se calhar, num médio capaz de complementar-se com Hjulmand: cumpridor a nível defensivo e capaz de acrescentar criatividade na zona intermédia, para jogos de maior exigência.

O FC Porto, mesmo sem três titulares, mostrou argumentos no primeiro verdadeiro teste de algodão. Há um novo Dragão na Invicta e a culpa é de um licenciado em filosofia, nascido a 36 anos em Barga, Itália.

O momento: Hulk, és tu?

Aos 64 minutos, três minutos após ter inaugurado o marcador, o FC Porto conseguiu bater a pressão do Sporting, ligar o jogo e gerar superioridade no flanco contrário. O resto é magia pura de William: recebeu na direita, puxou para dentro, deixou dois para trás e meteu uma 'banana' na bola, a fazer lembrar Givanildo de Sousa, vulgo Hulk, que deixou saudades na Invicta pela magia e potência do seu pé esquerdo. Que golaço!, Ah, já tinha avisado na semana passada, quando fez um quase igual ao Casa Pia.

A figura: William Gomes

No 1-0, é William Gomes que combina com Froholdt e descobre Alberto Costa na área para o lateral servir Luuk de Jong para o 1-0. No primeiro tempo, deu muito trabalho a Ricardo Mangas, pela velocidade e capacidade de drible. Assumiu a posição com a lesão de Pepê e mandou um recado ao treinador: quer lutar pelo lugar. Bela dor de cabeça para o italiano.

Outros destaques: Luis Suárez bem tentou

Luís Suárez foi um dos Leões que mais remou contra a maré. Esteve muito interventivo, ganhando muitos duelos aos centrais portistas, principalmente a Bednarek. Dos três remates enquadrados do Sporting, dois são dele, um deles a proporcionar a Diogo Costa a Defesa da Noite. Faltou-lhe o golo.

Os 35 anos de Luuk de Jong podem fazer com que se olhe para o gigante neerlandês com desconfiança mas, em apenas poucos jogos, já mostrou que pode ajudar o FC Porto. Muito importante nos duelos aéreos, na ligação com os médios interiores quando baixava para jogar de primeira e bater a linha de pressão leonina. Fez um golo a ponta de lança e mostrou que Samu que tem de correr mais.

Alberto Costa nem sempre decidiu bem a atacar, mas o seu voluntarismo e dedicação ajudaram na conquista dos três pontos. A defender, permitiu pouco ou nada ao Sporting e a atacar, serviu Luuk de Jong para desbloquear o jogo, nesta que foi a sua quarta assistência em quatro jogos na I Liga. Fica na retina a louca corrida no final do primeiro tempo para evitar o golo leonino numa situação de três contra um.

Na luta dos bancos, Francesco Farioli levou a melhor sobre Rui Borges. Quando viu o Sporting crescer no jogo no arranque do 2.º tempo e o seu meio-campo a desmoronar, nem  esperou muito: Zaidu no posto do cansado Francisco Moura e no meio, Pablo Rosario para os duelos, no lugar de Rodrigo Mora. O Dragão voltava a mandar no meio-campo.

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