
28 anos. É por esta altura que, por norma, um jogador atinge o auge da carreira. Foi com esta idade que Diogo Jota deixou de pertencer ao que chamamos o mundo dos vivos. Deixou a mulher, Rute, o amor da sua vida, com que tinha casado há menos de duas semanas. E com ela, três filhos que não partilharão memórias com o pai.
Diogo Jota era um avançado. Mas não desses típicos calmeirões que levam tudo à frente. Ou desses 'brinca na areia' que fintam tudo o que mexe. Os seus 73 kg, espalhados por 1,78 centímetros, dos pés a cabeça, enganavam. Apesar da baixa estatura para um avançado de Premier League, tinha um jogo de cabeça de fazer inveja.
Saltava entre centrais de 1,90 e cabeceava. Quase sempre certeiro.
Na área, 'cheirava' o golo como poucos. Parecia que atraía a bola. Estava sempre bem posicionado e, quando a bola chegava-lhe aos pés ou cabeça, era golo quase certo.
Finalizador nato. Um sentido de baliza incrível.
As lesões, principalmente no Liverpool, impediram-no de dar mais. Mas quando estava em forma, mostrava o porquê de os 'reds' terem gasto 44,7 milhões de euros ao Wolves, pelo seu passe.
Diogo Jota (1996-2025): A carreira do avançado em imagens
Dos primeiros anos no Gondomar à afirmação no Paços de Ferreira
A sua formação começou no Gondomar, clube da sua terra natal, no futebol de sete, em 2005/06. Por lá ficou até ao primeiro ano de sub-19, altura em que foi resgatado pelo Paços de Ferreira, então com 17 anos. O clube liderado por Paulo Meneses ficou impressionado com a sua facilidade à frente da baliza, numa altura em que jogava como médio ofensivo.
Chegava a Mata Real após ser o melhor marcador do campeonato de sub-17 da Associação de Futebol do Porto, em 2012/13.
E em boa hora os 'castores' avançaram para a sua contratação, porque a sua saída, anos depois, deixaria muitos milhões nos cofres da formação da 'Capital do Móvel'.

Foi Paulo Fonseca quem o atirou aos 'tubarões', aos 17 anos. Fez a pré-época nos 'Castores', estreando-se num amigável diante do SC Covilhã (1-1). Entrou aos 70 minutos. Participou em cinco jogos de preparação da equipa, voltou aos sub-19 para marcar cinco golos em três jogos (FC Porto, Boavista, Rio Ave), antes de se fixar em definitivo no plantel principal.
Estreou-se a 19 de outubro de 2014, na terceira eliminatória da Taça de Portugal. Titular com 17 anos, 10 meses e 15 dias, marcou o 4-0 final, já depois de ter assistido por duas vezes. Um belo cartão de visita, a confirmar o que se esperava dele, depois de se ter sagrado Melhor Marcador do Campeonato Nacional de Júniores, com 22 golos, no ano anterior.
A estreia na I Liga só aconteceria no 2-2 diante do Vitória SC, a 20 de fevereiro de 2015. O primeiro golo, e logo em dose dupla, só chegaria na 30.ª ronda, no 3-1 fora ao Arouca. Voltaria a marcar dois à Académica na 33.ª ronda para terminar com quatro golos e duas assistências em 12 partidas.
De Dragão a Lobo, sem ser 'colchonero:
No ano seguinte pegou de estaca nos 'Castores', já com Jorge Simão ao lemte. Os 14 golos e cinco assistências em 38 jogos, atraíram a atenção dos 'grandes' de Portugal, mas o seu agente Jorge Mendes iria desvia-lo para o Atlético Madrid, a troco de sete milhões de euros. Um grande negócio para o Paços de Ferreira, na altura.
Mas cedo se percebeu que não havia lugar para ele nos 'colchoneros' de Diego Simeone. Uma equipa que tinha nomes como Nico Gaitán, Ferrán Torres, Antoine Griezmann, Kevin Gameiro, Yannick Ferreira Carrasco, Angel Correa, entre outros, para a frente de ataque.
O FC Porto seria o seu destino, por empréstimo, e, apesar da época difícil no Dragão, deixou a sua marca, sob os comandos de Nuno Espírito Santo: nove golos e quatro assistências em 38 jogos, incluindo um hat-trick ao Nacional (4-0) na estreia a titular, que fizeram dele o primeiro jogador a marcar três golos no seu primeiro jogo como titular nos Dragões , em 76 anos.

Faria depois um bis ao Arouca (3-0) e marcaria, por exemplo, ao Benfica no clássico que Lisandro Lopez empatou 1-1 aos 90+2, no Dragão, num jogo dominado pelos azuis e brancos.
Cedo ficou claro que Diego Simeone não contava com ele, pelo foi preciso um novo empréstimo em 2017, agora para a o Wolverhampton, que estava a apostar muito na subida e tinha contratado vários jogadores portugueses. Na exigente segunda divisão do futebol inglês, iria fazer estragos.
Os seus 18 golos em 48 jogos ajudaram o Wolverhampton, de Nuno Espírito Santo, a sagrar-se campeão e a regressar à Premier League. Aos 21 anos, mostrava ao que vinha, numa equipa que tinha os portugueses Ivan Cavaleiro, Hélder Costa, Pedro 'Pote' Gonçalves, Rúben Neves, Ruben Vinagre e Roderick Miranda.
Klopp fez tudo para tê-lo em Anfield
Em 2018/2019, o Wolverhamptou pagou 14 milhões de euros pelo seu passe. O Atlético de Madrid, onde nunca fez um minuto sequer, recebia o dobro do que tinha investido.
26 golos e 10 assistências nas duas épocas ao mais alto nível convenceram o Liverpool, de Jurgen Klopp, a desembolsar 44,7 milhões de euros pelo seu passe. A sua mobilidade e capacidade à frente da baliza convenceram o técnico alemão.
Foram cinco as épocas em Anfield Road, passadas entre o campo e a enfermaria. Quando estava bem, cumpria, como mostrou na segunda temporada, época em que fez 21 golos e deu outros seis a marcar em 55 jogos disputados. Foi a sua época mais produtiva nos vermelhos da cidade dos Beatles.
No Liverpool conquistou uma Liga Inglesa, duas Taças da Liga e uma Taça de Inglaterra. Fez, diante do Everton, o último golo pelos 'reds', a 2 de abril de 2025, na 30.ª ronda da Premier League.
Seleção Nacional: Carreira discreta na formação antes de levantar dois títulos nos AA
A sua carreira de Quinas ao peito começou nos escalões jovens, mais precisamente nos sub-19 (9 jogos, cinco golos).
Fez dois jogos na fase final do Europeu de sub-21 em 2017, ao lado de nomes como João Cancelo, Bruno Fernandes, Renato Sanches, Ruben Neves, Gonçalo Guedes e Ricardo Horta. Ao todo, marcou oito golos em 20 jogos pelos sub-21 lusos. Fez parte também da seleção olímpica portuguesa que esteve no Jogos do Rio de Janeiro em 2016, tendo marcado um dos golos da goleada ao México por 4-0.
Seria Fernando Santos a lança-lo na Seleção principal de Portugal aos 22 anos 11 meses 10 dias, no lugar de Cristiano Ronaldo, em novembro de 2019, na vitória 6-0 no Estádio do Algarve diante da Lituânia.

Foi convocado em março e em junho desse ano, mas não somou minutos frente ao Luxemburgo (6-0) e a Bósnia Herzegovina (3-0), no apuramento para o Euro 2000. Fez parte da equipa que venceu a primeira edição da Liga das Nações, ganha na final no Dragão aos Países Baixos, apesar de não ter jogado.
Marcaria o primeiro dos seus 14 golos na Seleção A de Portugal, nos 4-1 à Croácia no Estádio do Dragão, para a Liga das Nações, em setembro de 2020, na sua terceira internacionalização. Ao todo, foram 49 jogos pela seleção principal de Portugal.
Ainda neste verão, levantou a sua segunda Liga das Nações por Portugal, agora como suplente utilizado, na vitória diante da Espanha nas grandes penalidades. Jogou todos os jogos desta conquista, exceto frente a Polónia e a Croácia na fase Liga e na primeira mão dos quartos-de-final com a Dinamarca.
O seu último golo por Portugal foi marcado no verão do ano passado, a derrota por 1-2 no Jamor para a Croácia, na preparação para o Europeu de 2024.
Ao todo, marcou 150 golos em 447 jogos, ao longo da carreira a nível sénior.
Diogo Jota morreu, juntamente com o irmão André Silva, atleta do Penafiel, na madrugada de quarta para quinta-feira, vítima de um acidente de viação em Espanha. O carro em que seguia os dois jogadores despistou-se na A52, em Cernadilla, Zamora, e incendiou-se de pronto.
De acordo com a Guarda Civil espanhol, na base do trágico acidente estará o rebentamento de um pneu.
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