Numa reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre a situação na Ucrânia, país alvo de uma ofensiva militar russa desde fevereiro de 2022, Griffiths precisou que a ajuda inclui assistência em dinheiro, alimentação, cuidados médicos e apoio de subsistência.

Além disso, cerca de 43 comboios de várias agências humanitárias, com apoio de parceiros locais, entregaram bens de primeira necessidade a 278 mil pessoas na linha da frente dos combates desde o início de 2023.

Perante os Estados-membros do Conselho de Segurança, Martin Griffiths denunciou ainda que muitas comunidades ucranianas ao longo da fronteira nordeste com a Rússia e perto da linha da frente "estão cercadas, sem água, comida e assistência médica devido a intensos combates terrestres e estradas bloqueadas".

De acordo com o subsecretário-geral, as áreas mais difíceis de alcançar continuam a ser Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia - atualmente sob controlo militar da Federação Russa.

"Apesar de 14 meses a notificarmos as partes sobre as nossas intenções, não conseguimos prestar assistência às comunidades ao longo da linha da frente em áreas sob controlo militar da Rússia", frisou o representante.

"Observo com pesar que as hostilidades, incluindo ataques com mísseis, parecem estar a aumentar em ambos os lados da linha da frente. As sirenes de ataque aéreo continuam a soar em cidades e vilas por toda a Ucrânia. Os civis continuam a procurar proteção em 'bunkers', alguns durante vários dias", disse o subsecretário-geral, acrescentando que as baixas civis estão a subir para os níveis mais altos em meses.

A reunião de hoje, convocada pelo Equador e pela França - codetentores do dossiê de questões humanitárias na Ucrânia - ocorreu num momento em que decorrem esforços diplomáticos para renovar o acordo de exportação de cereais ucranianos e produtos agrícolas russos através do Mar Negro, que expira na próxima quinta-feira (dia 18 de maio).

A iniciativa (firmada pela Rússia, Ucrânia, ONU e Turquia) foi renovada pela última vez em março passado por um período de 60 dias, segundo o prazo estipulado por Moscovo.

A Rússia ameaçou não renovar o acordo, argumentando com a falta de progresso na resolução de barreiras que dificultam a exportação de produtos agrícolas e fertilizantes russos para os mercados internacionais.

Sobre o acordo, Martin Griffiths - que tem estado diretamente envolvido nas negociações de renovação - considerou como "crítico" um novo compromisso das partes para um bom e eficiente funcionamento da iniciativa.

"Nas últimas semanas, envolvemo-nos em discussões intensas com as partes do acordo dos cereais do Mar Negro, para garantir um acordo sobre a sua extensão e as melhorias necessárias para que opere de maneira eficaz e previsível. Isso vai continuar nos próximos dias. (...) Apelamos a todas as partes para cumprirem as suas responsabilidades. O mundo está a ver", advertiu.

Na reunião, a França acusou a Rússia de "explorar as fragilidades de alguns países já vulneráveis às flutuações do mercado de cereais" .

Também o Reino Unido e os Estados Unidos criticaram a posição de Moscovo de continuar a bloquear e atrasar as inspeções de navios que integram a iniciativa.

"Enquanto a Rússia impede que os cereais ucranianos alimentem os famintos, a Rússia está a exportar com sucesso a sua própria colheita abundante. A Rússia deve cumprir os seus próprios compromissos. A Rússia deve parar de manter a segurança alimentar global como refém dos seus cínicos jogos de poder e obtenção de lucros", afirmou por sua vez o diplomata norte-americano Robert Wood.

Por outro lado, o embaixador russo junto da ONU, Vasily Nebenzya, classificou a reunião de hoje de "hipocrisia", observando que em abril - mês em que a própria Rússia presidiu ao Conselho de Segurança - não foram convocadas reuniões para debater as questões humanitárias em torno do conflito na Ucrânia.

O representante permanente da Ucrânia junto da ONU, Sergiy Kyslytsya, fez uma análise ampla da destruição provocada pela Rússia em vários setores e considerou "repugnante que a Rússia ainda finja estar do lado perdedor do acordo" dos cereais do Mar Negro.

"Nem vou lembrar ao Conselho a imoralidade de tais reclamações do Estado agressor, que foi e continua a ser a única ameaça aos embarques de alimentos no Mar Negro. (...) Os dados indicam que a exportação russa de trigo em janeiro-fevereiro de 2023 quase duplicou em relação ao mesmo período do ano anterior", disse o diplomata ucraniano.

Nesse sentido, Kyslytsya considerou as queixas russas "uma tentativa de encobrir as práticas deliberadas para tornar o abastecimento de alimentos numa arma" e instou a comunidade internacional "a dar uma resposta resoluta".

 

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