Calor abrasador e ameaças de trovoadas estão a causar perturbações no Mundial de Clubes e é provável que o mesmo cenário se repita no Mundial de seleções de 2026.

Com mais uma vaga de calor extremo, impulsionada pelas alterações climáticas, a atingir a costa leste dos Estados Unidos, a adaptação ao clima tornou-se uma preocupação central para treinadores e jogadores.

O Borussia Dortmund tomou a decisão invulgar de deixar os suplentes no balneário durante a primeira parte do jogo contra os sul-africanos do Mamelodi Sundowns, em Cincinnati, em vez de os manter no banco sob sol escaldante.

Já o treinador do Chelsea, Enzo Maresca, decidiu encurtar a sessão de treino da equipa na segunda-feira, em Filadélfia, onde os termómetros atingiram os 37,2 graus Celsius.

O técnico do Dortmund, Niko Kovac, afirmou que as condições climatéricas podem acabar por determinar o vencedor da prova.

"Acho que este torneio não será ganho pela melhor equipa, mas pela equipa que melhor conseguir adaptar-se a estas condições meteorológicas. Provavelmente serão eles os vencedores", disse Kovac.

Pedro Neto marcou o primeiro golo do Chelsea no Mundial de Clubes
Pedro Neto marcou o primeiro golo do Chelsea no Mundial de Clubes Pedro Neto marcou o primeiro golo do Chelsea no Mundial de Clubes créditos: FIFA

Embora as pausas para hidratação a meio de cada parte dos jogos já se tenham tornado norma neste torneio, o Dortmund, tal como outras equipas, está a adotar medidas adicionais para lidar com o calor e a humidade.

"Os nossos jogadores estão a ser muito bem acompanhados pelos médicos e pela equipa médica. Temos toalhas muito frias, colocamo-las em banhos de gelo. Os jogadores também precisam de arrefecer as pernas e os pés em água fria e banhos de gelo", garantiu Kovac.

A experiência vivida no Mundial de Clubes antecipa o que se pode esperar no Mundial masculino de seleções em 2026, que terá lugar nos EUA, Canadá e México.

Um estudo recente publicado no 'International Journal of Biometeorology' alertou para os riscos que o calor extremo poderá representar para jogadores e adeptos, apontando as alterações climáticas como causa de eventos de "calor extremo" cada vez mais frequentes e intensos.

Tempestades interrompem jogos

O estudo, baseado em dados recolhidos entre 2003 e 2022, concluiu que 14 das 16 cidades anfitriãs do Mundial de futebol 2026 registaram temperaturas que frequentemente ultrapassam os limites seguros definidos para o' wet bulb globe temperature' (WBGT), um indicador amplamente usado para medir o stress térmico.

O estudo defende que os jogos devem ser marcados fora das janelas horárias da tarde, quando as condições são mais exigentes.

Além do calor e da humidade, as equipas no Mundial de Clubes também têm de litar com as interrupções dos jogos causadas por trovoadas.

Na terça-feira, o jogo entre Boca Juniors e Auckland City foi o quinto do torneio a ser interrompido devido às normas de segurança pública em vigor nos EUA, que obrigam à suspensão do jogo sempre que há relâmpagos a menos de 16,1 quilómetros do estádio.

Um atraso semelhante no jogo entre o Benfica e o Auckland resultou numa paragem de quase duas horas.

Ben Schott, responsável do Serviço Nacional de Meteorologia dos EUA e conselheiro da FIFA e do Grupo de Trabalho do Mundial 2026, afirmou que o clima que tem afetado o torneio atual "não é incomum", apesar dos recordes.

"Estamos a bater recordes em grande parte do leste dos EUA, mas isso acontece quase todos os verões. Esperar algo semelhante no próximo ano é uma possibilidade para a qual todos devem estar preparados, se quiserem vir e desfrutar dos jogos", disse Schott à AFP.

Calor
Calor Calor créditos: NUNO VEIGA/LUSA

Embora o calor já tivesse sido um problema quando os EUA acolheram o Mundial de 1994, nesse torneio não houve qualquer jogo interrompido por causa das tempestades.

Isto deve-se aos avanços na tecnologia de previsão meteorológica, explicou Schott.

"Estamos numa fase em que conseguimos prever com quase uma semana de antecedência e com bastante precisão, algo impensável há 15 ou 20 anos. Os avanços na meteorologia desde o Mundial de 1994 têm sido significativos", recordou.

Schott acrescentou que as trovoadas são "parte da rotina" em várias regiões da América do Norte.

"Este tipo de tempo é bastante típico nos Estados Unidos nesta altura do ano. Recebemos muita humidade vinda do Golfo do México, o que origina tempestades durante a tarde. Por isso, à medida que nos aproximamos do Mundial de 2026, é muito provável que voltemos a ver o que estamos a presenciar agora", garantiu.

A FIFA, em comunicado enviado à AFP, afirmou que "a saúde de todos os envolvidos no futebol" é "prioridade máxima", salientando medidas como as pausas para hidratação e a possibilidade de realizar até seis substituições caso haja prolongamento.

"A FIFA continuará a monitorizar as condições meteorológicas em coordenação com as equipas dos estádios, para garantir uma experiência segura e agradável para todos os envolvidos", conclui o comunicado.